domingo, 3 de maio de 2009

Faz hoje uma semana...

... mas é como se tivesse sido há bocado. A noite de Leiria está viva e recomenda-se. É de elevada qualidade. Obrigado Maria e Castro. Foi um belo 25 de Abril.

sábado, 2 de maio de 2009

O Woodstock (do capitalismo)


Decorreu hoje (Sábado, 2 de Maio) aquilo a que muitos chamam o Woodstock do capitalismo: a assembleia geral da Berkshire Hathaway, a empresa de Warren Buffett. Mais de 35 mil accionistas foram à reunião adorar (ou não) o Oráculo de Omaha ou Sábio de Omaha, como também é conhecido o especulador Buffett. Aquele que rebentou com a libra e tal, mas que não se priva de ir mandando umas postas de pescada sobre os males do capitalismo e de como a ganância e vigarice deram cabo disto tudo. A corrida ao evento soma mais adeptos do que a média da assistência dos jogos do Benfica e acontece assim em larga escala porque, diz-se, WB (com 78 anos) estará a preparar a sucessão à frente da empresa, escreve o Financial Times online. Aqui Shareholders flock to Sage of Omaha para saber mais sobre o fenómeno.
Bom. Isto tudo para lembrar que o Woodstock faz 40 anos no próximo mês de Agosto.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

“O que vocês não sabem e nem imaginam“

Há cerca de uma hora, no Cantinho do Aziz, um pequeno restaurante moçambicano na Mouraria, estava Eduardo White, escritor.
E aqui continua:

O que vocês não sabem e nem imaginam

Vocês não sabem
mas todas as manhãs me preparo
para ser, de novo, aquele homem.
Arrumo as aflições, as carências,
as poucas alegrias do que ainda sou capaz de rir,
o vinagre para as mágoas
e o cansaço que usarei
mais para o fim da tarde.

À hora do costume,
estou no meu respeitoso emprego:
o de Secretário de Informação e de Relações Públicas.
Aturo pacientemente os colegas,
felizes em seus ostentosos cargos,
em suas mesas repletas de ofícios,
os ares importantes dos chefes
meticulosamente empacotados em seus fatos,
a lenta e indiferente preguiça do tempo.

Todas as manhãs tudo se repete.
O poeta Eduardo White se despede de mim
à porta de casa,
agradece-me o esforço que é mantê-lo
alimentado, vestido e bebido
(ele sem mover palha)
me lembra o pão que devo trazer,
os rebuçados para prender o Sandro,
o sorriso luzidio e feliz para a Olga,
e alguma disposição da que me reste
para os amigos que, mais logo,
possam eventualmente aparecer.

Depois, ao fim da tarde,
já com as obrigações cumpridas,
rumo a casa.
À porta me esperam
a mulher, o filho e o poeta.
A todos cumprimento de igual modo.
Um largo sorriso no rosto,
um expresso cansaço nos olhos,
para que de mim se apiedem
e se esmerem no respeito,
e aquele costumeiro morro de fome.

Então à mesa, religiosamente comemos os quatro
o jantar de três
(que o poeta inconsta
na ficha do agregado).

Fingidamente satisfeito ensaio
um largo bocejo
e do homem me dispo.
Chamo pela Olga para que o pendure,
junto ao resto da roupa,
com aquele jeito que só ela tem
de o encabidar sem o amarrotar.

O poeta, visto-o depois
e é com ele que amo
escrevo versos
e faço filhos.

Eduardo White (n. 1963, Moçambique)